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Ramana Maharshi nasceu em 30 de Dezembro de 1879 em Tiruchuzhi, no sul da Índia, e faleceu no dia 14 de Abril de 1950.
Veio a ser reconhecido como mestre do Advaita Vedanta e homem de enorme santidade, quer na Índia quer no Ocidente.
Teve uma infância normal, mas duas características chamaram a atenção da família: um sono excessivamente profundo e uma força física anormal para a sua idade. Nada fazia prever que estaríamos perante um dos maiores místicos dos séculos XIX e XX.
O pai de Ramana faleceu quando este tinha quinze anos e Ramana foi viver com um tio para a cidade de Madura.
Aos 16 anos, passou por uma extraordinária experiência relacionada com a morte, sem que nada tivesse praticado para a obter.
Estando só, sentado numa sala da residência foi acometido por um intenso medo da morte. Sentiu que iria morrer. Não obstante, não entrou em pânico e começou a pensar nesse novo facto que ocorria na sua existência. Interiorizou o medo terrível que o afligia e perguntou a si mesmo: - A morte veio, o que é que essa morte representa? O que é que está a morrer?
O corpo morre, pensou.
Estendeu-se e começou a imitar um cadáver. Reteve a respiração e disse para si mesmo, ‘este corpo está morto, será cremado e reduzido a cinzas’.
Continuou a inquirir-se:
- Com a morte deste corpo eu também morro?
- Este corpo é o “Eu”?
Apesar do corpo imitar com perfeição a morte, Ramana não deixou de sentir a sua existência e o próprio “Eu”. O “Eu” que se manifestava não fazia parte do corpo, estava separado dele.
Aí, intuiu, experimentando uma verdade inquestionável:
- Eu sou Espírito que não pode ser afectado pela morte. O Espírito está para além do corpo e de todas as suas funções e é imortal.
A partir desse momento o medo da morte extinguiu-se por completo e Ramana passou a desfrutar de uma contínua imersão no Ser.
O ego permitira-lhe ter medo da morte. Mas este desapareceu quando o jovem Ramana fundiu o seu “Eu” com o Self (Si) infinito e eterno ou seja com o Espírito.
Nunca mais teria medo da morte. O seu “eu” extinguir-se-ia com a destruição do corpo, mas o “Eu” verdadeiro não estava submetido às leis da dissolução.
Segundo o jovem mestre, o primeiro de todos os pensamentos é o pensamento “Eu”. É após este que surgem todos os outros. Se perseguirmos o “Eu” até à sua origem, este que é o primeiro e último pensamento, acabará por se dissipar.
Quando negamos o facto de sermos este corpo e tudo o que o compõe, mesmo a mente donde nasce o ego, afirmando ‘Eu não sou este corpo’, podemos constatar que resta a Consciência pura que permanece em nós, só e por si mesma. Aí declaramos: “Eu sou”. Eu sou essa consciência que é Existência, Consciência e Felicidade.
Dissipados que estejam os pensamentos, poderemos despertar para o Si, natureza real de todos os homens, que está para além da mente e que é eterno e infinito.
Ramana atingira a Libertação e com ela toda a sua vida se modificou, renunciando ao mundo exterior.
É interessante anotar que afirmava ter sido feliz por nunca se ter interessado pela filosofia e que se o tivesse feito não teria chegado a lugar algum.
Um dia, tomou a decisão de abandonar a casa onde vivia com os seus tios deixando uma carta onde referiu ter partido em busca do seu Pai e pediu para que não se preocupassem com o facto, nomeadamente desperdiçando dinheiro à sua procura.
Partiu para Tiruvannamalai, 190 Km ao Sul de Madras, perto da montanha de Arunachala onde por renúncia se libertou do dinheiro que transportava, nunca mais tocando em qualquer moeda ou nota e do colar sagrado, passando apenas a vestir uma tanga.
Ramana desapegou-se do mundo e estabeleceu-se definitivamente no Si, descurando por completo o seu corpo quer na alimentação quer na higiene, comendo apenas uma tigela de comida diariamente e não tomando banho.
Passava a maior parte do tempo em silêncio e imerso no Si.
Alguns anos depois de ter abandonado a casa foi encontrado pelos seus parentes que tudo fizeram para que retornasse a Madura, o que não fez.
A sua mãe permaneceu com ele durante bastante tempo, mas Ramana não lhe prestava qualquer atenção especial.
Por essa altura tinha feito um voto de silêncio e limitou-se a escrever algumas linhas: “O que tudo ordena controla os destinos das almas segundo o seu Prarabdhakarma. Tudo o que não está destinado a acontecer não acontecerá, tente-se fazer o que se quiser. Tudo o que está destinado a acontecer acontecerá, faça-se seja o que for para o impedir. Isto é verdadeiro. O melhor caminho, portanto é ficar calado.”
A mãe de Ramana voltou para casa. Por seu turno, Ramana começou a ter um comportamento diferente, minimizando o ascetismo a que se devotara.
Depois de ter passado dois anos em Tiruvannamalai, vivendo ao relento e em templos, estabeleceu a sua morada em Arunachala, monte sagrado da Índia.
Em Arunachala, onde já tinha um grupo de devotos foi construído um Ashram.
O número de devotos aumentava, os seus ensinamentos disseminaram-se pelo mundo e o Ashram era cada vez mais conhecido.
A partir do ano de 1947 a saúde de Ramana deteriorou-se. Em 1949 foi-lhe diagnosticado um tumor maligno. Ramana aceitou a doença e a morte inevitável. Ele nunca iria valorizar o corpo e o tempo de vida deste.
Faleceu no dia 14 de Abril de 1950 com a certeza de que apenas o corpo morre, o que não constitui qualquer tragédia.
Contrariamente a muitos sábios e santos hindus nunca se referiu à sua eventual reencarnação ou libertação definitiva do ciclo de nascimento e morte.
Questionado sobre o assunto limitou-se a responder:
“Quando morrer não me irei embora. Para onde haveria eu de ir?” ou “Não me irei embora, estou aqui”.
Ramana, místico hindu, está aqui no eterno agora.
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